Sou funcionário do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) há 22 anos como Médico e há cerca de 2 anos, muito orgulhosamente, como Professor de Geriatria de nossa Universidade. Fui aluno desta Instituição desde 1994 e entre o tempo de faculdade e serviço público, são quase 30 anos. Tenho muito orgulho de PERTENCER a nossa Universidade. Durante minha trajetória na mesma, fui discente da graduação, da pós-graduação lato sensu e stricto sensu em Neurologia; fui docente da disciplina de Medicina Intensiva, Coordenador Médico do CTI do nosso hospital universitário; orientei dezenas trabalhos de conclusão de curso (TCC) de alunos de Medicina de nossa Universidade, bem como participai de dezenas de outras bancas de defesa de TCC. Desenvolvi e desenvolvo projetos de pesquisa e extensão que nos deram (a nossa Universidade) muitos frutos científicos, como dezenas de publicações em revistas de alto impacto, centenas de trabalhos científicos apresentados em congressos médicos nacionais e internacionais, além da formação técnica e MORAL de diversos médicos e alunos de Medicina que orientei, seja como preceptor médico na assistência ou como professor de Medicina.
Tive a honra de fazer parte de conquistas importantíssimas de nosso hospital, como ser o hospital que mais ofertou consultas de primeira vez à regulação nos últimos 5 anos (www.bit.ly/hugg_1); o hospital que teve o maior número de trabalhos aprovados para o Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva (www.bit.ly/hugg_2); quando realizamos 3 cirurgias de redesignação sexual (www.bit.ly/hugg_3); quando um de nossos projetos de humanização foi reconhecido e divulgado pela imprensa (www.bit.ly/hugg_4); quando tivemos nosso projeto que traz mais alegria aos nossos pequenos pacientes do Serviço de Pediatria foi reconhecido e divulgado pela imprensa (www.bit.ly/hugg_5); quando nosso CTI foi selecionado para o Projeto Saúde em Nossas Mãos PROADI/SUS (www.bit.ly/hugg_6); quando distribuímos cestas de alimentos a nossos pacientes com doenças raras junto a parceiros assistenciais (www.bit.ly/hugg_7); quando levamos o espírito natalino a nossos pacientes (www.bit.ly/hugg_8); quando nos solidarizamos com nossos irmãos de Petrópolis (www.bit.ly/hugg_9); quando fomos pioneiros em pesquisa inédita sobre ceratocone (www.bit.ly/hugg_10); quando publicamos o primeiro estudo mundial sobre alterações atencionais de longo prazo na COVID-19 (www.bit.ly/hugg_11); quando tivemos nossa Profa. Claudia Vasconcellos (justamente) reconhecida como uma das grandes cientistas de nosso país (www.bit.ly/hugg_12); quando fechamos o ano de 2023 com 98% de inserções positivas na imprensa (www.bit.ly/hugg_13); quando tivemos mais de R$10 milhões investidos em nosso hospital (www.bit.ly/hugg_14); quando fomos bem avaliados (97% de indicação) pelos nossos pacientes (www.bit.ly/hugg_15); quando pudemos trazer liberdade de forma inovadora e revolucionária aos nossos pacientes mais frágeis (www.bit.ly/hugg_16); quando tivemos o prazer de observar mortalidade materna zero em nosso hospital (www.bit.ly/hugg_17); quando cultivamos humanização e cuidados com nossos pacientes pelo Projeto Florescer (www.bit.ly/hugg_18); quando fomos pioneiros no tratamento de dor neuropática refratária (www.bit.ly/hugg_19); e muitas outras conquistas NOSSAS.
Há cerca de 1 ano atrás fomos formalmente comunicados por nosso Superintendente Dr. João Marcelo Ramalho Alves - sobre uma POSSÍVEL fusão com o Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Este fato, embora tenha deixado alguns de nós algo reticentes, deixou também muitos animados com a perspectiva de desempenharmos nossas funções com um número maior de possibilidades, já que este hospital, segundo informações do próprio Superintendente, possui diversos recursos que o nosso HUGG não tem. Nesta reunião realizada no anfiteatro da Décima Enfermaria em nosso HUGG, com a presença de alguns médicos do Serviço de Clínica Médica de nosso hospital, fomos informados sobre a intenção da fusão e os próximos passos que seriam dados. Seria formado um grupo de trabalho de nosso hospital, no qual estariam presentes representantes de todos os Serviços de nosso hospital, sendo avaliadas as condições e possibilidades do HFSE em receber-nos tanto fisicamente quanto de maneira organizacional. Segundo a fala do citado superintendente, isso seria feito da maneira "mais transparente possível, para que a possível transição fosse realmente boa para todos nós do HUGG e do HFSE".
Teria sido formado um grupo de trabalho (segundo informações nos veículos de imprensa da EBSERH), somente com um representante de nosso corpo clínico (que atualmente está afastado de suas funções - PORTARIA N° 139, DE 9 DE JANEIRO DE 2025). Não houve mais nenhuma informação para o corpo clínico (Do Serviço de Clínica Médica), nem para os docentes (do Departamento de Medicina Geral), nem para os alunos (de graduação em Medicina e da Pós-Graduação em Neurologia - Mestrado/Doutorado), além do que foi SUPERFICIALMENTE divulgado pela imprensa. Reitero que ao longo de todo esse tempo, não tivemos nenhuma informação oficial ou reunião realizada pela Superintendência do nosso hospital, para informação sobre o processo de “possível” fusão.
Nos surpreendemos recentemente com a divulgação na página oficial da UNIRIO (em 10/05/2025) de um “RELATÓRIO DE DIAGNÓSTICO INTEGRADO”, elaborado pela EBSERH após visita técnica entre 02 e 06/12/2024 nos dois hospitais (página 3, parágrafo 3). Estranhamente, as “análises profundas” foram feitas somente em 4 dias de visitas aos dois hospitais. Talvez pelo pouco tempo de análise, observei vários equívocos graves no relatório, como os citados:
- Acesso ao HFSE: na página 7 parágrafo 1, o relatório fala de “acesso facilitado à Estação Central do Brasil, ao VLT, metrô... transporte individual...”. A estação de transporte ferroviário Central do Brasil situa-se a cerca de 2km do hospital, bem como a estação de metrô Presidente Vargas, fazendo com que tenhamos de caminhar por cerca de 20-30 minutos até o hospital, caso utilizemos estes transportes. O entorno do HFSE, localizado na Área Integrada de Segurança Pública 5 (AISP 5), que abrange os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, apresenta indicadores de criminalidade acima da média da cidade em roubos a pedestres, veículos particulares e coletivos (Fonte: https://www.ispdados.rj.gov.br/). Segundo informações obtidas de funcionários do HFSE, o hospital não conta com quantitativo suficiente de vagas para contemplar nem mesmo os funcionários do hospital atualmente (sem os funcionários do HUGG). O documento cita pontos turísticos próximos ao HFSE, mas não cita a “Cracolândia”, localizada também no entorno do hospital. Sem dúvida um ponto bastante tendencioso no relatório, que deveria ser completamente imparcial...
- Equipamentos: Na página 31 não consta no relatório a informação de um angiógrafo de nosso hospital que supostamente teria sido ou seria doado a outra Instituição administrada pela EBSERH. Este equipamento teria custado alguns milhões de reais e nunca fora utilizado em nosso hospital por motivos desconhecidos e ainda não esclarecidos.
- Unidade Transfusional: Na página 32 parágrafo 1 o documento cita que a Unidade Transfusional do HUGG inexiste, o que mostra desinformação do grupo de trabalho. Nossa Unidade é atuante há décadas, tendo inclusive publicado materiais científicos com o apoio da EBSERH conforme divulgado na imprensa (www.bit.ly/hugg_20). Mais um ponto que mostra que o relatório parece tendencioso, ao ignorar setores de nosso hospital que efetivamente funcionam e produzem...
- Anatomia Patológica: O relatório em sua página 28 não cita sequer que o Serviço de Anatomia Patológica de nosso hospital, reconhecido mundialmente pelos numerosos trabalhos do ilustríssimo Prof. Dr. Carlos Alberto Basílio de Oliveira e atualmente sendo coordenado por seu filho e igualmente ilustre professor de nossa Instituição, Prof. Dr. Rodrigo Panno Basílio de Oliveira. Mais uma vez, o relatório não mostra setores importantes de nosso hospital, sem motivos aparentes.
- Unidade Multiprofissional: O relatório não faz menção aos nossos profissionais de Fisioterapia, Psicologia, Terapia Ocupacional e Serviço Social. Lamentavelmente, mais uma vez, o relatório simplesmente ignora setores produtivos de nosso hospital.
- Localização do hospital: Na página 38, item 5.14.1, segundo parágrafo, quarta linha, o relatório cita: “...a região oferece uma infraestrutura que facilita o acesso e o conforto dos pacientes, funcionários e visitantes. O transporte público na área é bem servido, com diversas linhas de ônibus que atendem a região, além da proximidade com a estação de metrô da Central do Brasil, que está localizada a uma distância relativamente curta, facilitando a mobilidade.”. Pois reitero o que já foi citado... estações de metrô e trem mais próximas localizam-se a cerca de 2km do hospital, representando uma caminhada de 20-30 minutos até ele, caso se opte por utilizar estes transportes. No parágrafo seguinte o relatório menciona “...Para quem utiliza veículos próprios, há disponibilidade de estacionamentos próximos ao hospital...” o que é novamente uma inverdade, conforme afirmam funcionários do HFSE. E ainda, no parágrafo seguinte: “A área também conta com uma ampla oferta de restaurantes e lanchonetes, proporcionando diversas opções de alimentação tanto para pacientes e acompanhantes quanto para funcionários do hospital.”; segundo relatos verbais de funcionários do hospital, não há oferta suficiente de restaurantes próximos ao hospital para contemplar nem mesmo os funcionários que atualmente trabalham no HFSE... muito menos quando este quantitativo de funcionários aumentar em 50-70%. Mais uma vez, falta verdade ou cuidado com as informações no relatório.
- Infraestrutura do HUGG: Na página 42 parágrafo 2 o relatório cita: “Diuturnamente ocorrem demandas urgentes devido a vazamentos inesperados em locais importantes do HUGG e que a equipe de manutenção para o serviço em andamento para atender...”. Não foi citado sobre a inoperância do hospital em relação a manutenção adequada, com uma simples limpeza de calhas, para evitar boa parte destes transtornos. Não citam ainda a existência de elevadores no HUGG, ainda que estes também fiquem inoperantes a maior parte do tempo, por ingerência do hospital em relação à manutenção deles. Os elevadores existem, mas a habilidade para mantê-los funcionando não depende de espaço, mas de competência administrativa e cuidado com o bem público.
- Produtividade – Novo HSEUNIRIO: Na página 70 último parágrafo, talvez se utilizando de uma possível “licença poética”, o relatório divulga projeções de produtividade, dignas dos melhores hospitais da Rede D´Or / São Luiz. Produtividades projetadas sem qualquer critério citado, que mostram números impressionantes, com produtividades de 2 a 10 vezes maior do que as atuais dos dois hospitais (HUGG e HFSE) somadas. Cito por exemplo a projeção de realização de 11520 testes ergométricos por ano nas 3 esteiras que supostamente existirão no novo hospital. Ora... para isso, teriam de ser feitos mais de 30 exames diariamente de segunda a segunda, aos sábados, domingos ou feriados... sendo que a produtividade dos dois hospitais somados consistiu de 242 exames anuais (!). Cito ainda os números de eletroencefalogramas que passariam de 38 para 4224 exames anuais... e de eletroneuromiografias que saltariam de 114 para 1901... impressionante! Além dos números projetados serem desproporcionalmente superestimados e fantasiosos, os responsáveis pelo relatório esquecem (ou talvez não saibam, já que não são profissionais de saúde... ou pelo menos não parecem ser!) que quem produz na verdade não são os hospitais, mas sim as pessoas que lá trabalham... e estas pessoas não estão absolutamente NADA motivadas em trabalhar, com o tratamento, a falta de informação e respeito que estão experimentando por parte dos responsáveis por todo esse processo. Em pesquisa pública realizada por funcionários do HFSE, constatou-se que 94,9% dos funcionários são contra a fusão nos moldes atuais; esta pesquisa contou com a participação de 72% dos funcionários do HFSE, o que mostra boa representatividade desta população (www.bit.ly/hugg_21).
- Desafios em hospitais em pleno funcionamento: Na página 119 parágrafo 2 cita-se a “Um dos desafios mais significativos neste cenário é o gerenciamento da resistência à mudança em múltiplos níveis organizacionais. Colaboradores com longos históricos institucionais, particularmente aqueles com vínculos estatutários permanentes, podem demonstrar apreensão quanto à implementação de novos modelos de gestão, especialmente quando estes envolvem mudanças em práticas e processos há muito estabelecidos.”. Sinceramente, não importa o vínculo de quem está na assistência hospitalar; boa parte destas equipes (HUGG e HFSE) passou pela pandemia de COVID-19 lutando lado a lado sem nenhuma forma de discriminação... o relatório, pelo contrário, discrimina aqueles funcionários que outrora fizeram um concurso público e tiveram a competência de estar onde estão. PARA UMA UNIVERSIDADE LUTANDO POR TEMPOS DE INCLUSÃO, ESTA AFIRMAÇÃO NO RELATÓRIO É REALMENTE INCONCEBÍVEL.
- Riscos mapeados: Na tabela da página 124, o relatório faz menção a diversos pontos de possíveis problemas estruturais do HFSE e cita ações de mitigação. Questiono o motivo de certas ações de mitigação citadas aí não terem sido tomadas ao longo dos 10 anos de administração do HUGG... e aproveito para questionar se estas ações SERÃO REALMENTE TOMADAS no caso do HFSE e o que nos garantirá isso.
Estamos sofrendo acintosamente ASSÉDIO MORAL INSTITUCIONAL por parte da EBSERH, com a conivência ou negligência de nossa Superintendência e Reitoria, que não nos dão quaisquer informações sobre o processo de fusão com o HFSE, além de mostrarem uma quebra clara da Cláusula Quinta, alínea c do Acordo de Cooperação Técnica nº 16/2024 que cita como obrigação de nossa UNIRIO: “estudar e definir em diálogo com a Comunidade Universitária as atividades e utilizações dos espaços resultantes da eventual fusão, considerando as atividades integradas de ensino, pesquisa, extensão, inovação e assistência.”
E quando questionamos a empresa, fomos respondidos com uma esta nota absurda:
“O prédio do HUGG, com sua arquitetura tombada e estrutura física severamente limitada, há décadas impõe barreiras técnicas, financeiras e operacionais a qualquer plano consistente de modernização”
Se esta afirmação fosse verdade, como explicar os milhões de reais investidos na recente construção de um novo Setor de Hemodiálise, no último andar de nosso hospital? E as recentes reformas da nossa Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal?
A mesma nota sugere ainda que somos ineficientes:
“...precisamos ter coragem institucional de reconhecer que preservar símbolos não pode significar manter ineficiências, restringir acessos ou comprometer o futuro.”
Além do conteúdo demagógico, que parece parafraseado de um político populista baiano caricato e fictício - “Odorico Paraguaçu” - a nota é uma leviandade sobre nossa eficiência como Instituição de assistência/ensino/pesquisa/extensão/inovação, como comprovados pelas dezenas de links para notícias citados neste documento.
Nutro profunda admiração por nosso Magnífico Reitor Professor José da Costa Filho. Sua brilhante história, se caracteriza pela luta por justiça e pela dedicação aos pilares de uma Universidade Pública. Tive o privilégio de pessoalmente vê-lo lutando pelos interesses de nosso hospital num passado não muito distante (quando ainda não era nosso Magnífico Reitor). Elogiava-o diuturnamente por nos dar voz (HUGG), diferentemente de outras gestões na reitoria de nossa universidade, que covardemente nos ignoraram. Porém, lamento veementemente a postura em relação a esta dita “fusão”. Essa reitoria foi eleita de maneira inquestionável; foi justamente aclamada por nossa comunidade universitária, com a proposta de uma Universidade Inclusiva, Democrática, Transparente e Participativa. Mas nesse caso, não estamos sendo ouvidos e sequer comunicados oficialmente. Pelo contrário, estamos sendo discriminados e excluídos da decisão de pontos importantíssimos deste processo, por atitudes quase ditatoriais de um grupo com interesses desconhecidos em relação aos rumos de nosso hospital e nossa Universidade.
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