Fechar tudo e enviar para o H. dos Servidores: enquanto as filas aumentam, as propostas são remanejamento, fechamento e "restrição orçamentária". Na verdade, se trata de camuflar a redução de serviços, inevitácvel consequência da política de restrição orçamentária que dura décadas.
O acordo agora divulgado pela UNIRIO, é um conjunto de megalomania,
insanidade, descolamento da realidade, ofensa à inteligência do povo, meia-verdades,
argumentos contraditórios, dados totalmente distintos da verdade e atentado à
saúde pública.
Entre todas
as promessas, gráficos e planos grandiosos, o que ficou claro e a única certeza
que se pode ter é: querem fechar o HUGG e transferir seus serviços (internação
e ambulatório) o complexo de edificações do Hospital Federal dos Servidores (HFSE).
Esse aliás, tratado como uma espécie de cemitério de hospitais: para lá já foi
enviado o Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião (IEISS).
Assunto pouco
abordado, cabe lembrar que ele funcionava até 2008 no Caju. A emergência fora
fechada novembro de 2004. O terreno e prédios foram
abandonados. A primeira promessa era torná-lo um “Centro de Referência e
Pesquisa do Crack”, que seria inaugurado em 2013, durante a visita do Papa
Bento XVI. O antes histórico centro de referência
em epidemiologia, em 2012 permanecia abandonado:
“(...) Hospital
foi inaugurado, em 1889, por dom Pedro II. Em 2002, durante uma epidemia de
dengue, a unidade desempenhou um papel importante no combate à doença: prestou
mais de dois mil atendimentos, sem que houvesse uma só morte. Em 2008, o
hospital fechou de vez, após a liberação de R$ 6 milhões para uma reforma que
nunca aconteceu.” (https://oglobo.globo.com/rio/abandonado-pelo-estado-antigo-hospital-no-caju-tem-terreno-loteado-predio-invadido-5375933)
Foi ocupado por
famílias de sem-teto e permanecia assim, mesmo tendo passado por ações de
reintegração de posse. Depois abrigaria um conjunto habitacional, mas nada
havia sido feito até 2015 (!).
Quanto ao IEISS,
seus serviços seriam transferidos “provisoriamente” para o prédio do Hospital Central
(HC) do Iaserj. Mas o prédio do HC-IASERJ estava sendo dado, nesse mesmo ano,
ao INCA e, dois anos depois, em 2010, viria a decisão de demoli-lo. (veja mais em
nosso blogue: aqui,
aqui
e aqui).
Acomodado no
Hospital do IASERJ-Centro, oferecia cerca de 20 leitos de UTI para pacientes
adultos de doenças infectocontagiosas, além de leitos de UTI pediátricos. Agora,
a proposta era enviar para o... HFSE (!!!). A escolha era um total disparate. Não
seria apenas transferência, mas haveria também redução nos serviços prestados. Em
2010, conforme constatou
uma vistoria da Defensoria Pública da União (Direitos Humanos e Tutela Coletiva),
o novo local no HFSE:
“oferece
somente 12 leitos de UTI adulto e nenhum leito de UTI pediátrico, e sem
funcionamento de laboratório, sendo insuficiente portanto para atender às
necessidades do IEISS, e com grave prejuízo aos pacientes (população carioca e
fluminense). (...) A "porta de entrada" para o IEISS, no novo setor
do HSE, faz parte do conjunto com a da unidade materno fetal, ou seja, por onde
entrar pacientes infectocontagiosos, também entrarão mães e bebês, facilitando
a contaminação de pessoas extremamente vulneráveis.
O novo setor no
HSE também não tem ar-refrigerado, funcionando à base de ventiladores, o que
facilita a transmissão/contágio de doenças infecciosas pela via aérea (por ex.,
tuberculose). A comida que é preparada na cozinha do HSE e é distribuída por
todas as unidades do hospital, utilizará obrigatoriamente o corredor de
passagem da nova ala onde será acomodado o IEISS.”
Qualquer relação
com o caso atual do HUGG, não é mera coincidência.
Apesar disso
tudo, a partir de 20/08/2012 ocorreu a vinda do IEISS para a área física do
Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Em 2017, a gestão “operacional
e assistencial” seria entregue
à fundação estadual de saúde. Em 2018, a transferência ainda
era um problema. O Ministério da Saúde informava
ainda “que não existe nenhum documento com valor jurídico que oficialize a
parceria”. Nesse ano, conforme se lia no “Boletim Epidemiológico do Serviço de
Epidemiologia / HFSE / SAS / MS” a transferência se deu:
“através de um
processo que não está solucionado até hoje. Não houve uma integração efetiva
entre as duas instituições, que são inclusive de naturezas jurídicas distintas,
uma estadual e a outra federal.”
Para alguns,
a transferência “foi apenas uma forma encontrada pelo governo do estado para
disfarçar o fechamento do único hospital da rede especializado em doenças
infectocontagiosas”:
"O
governo evidentemente, para minimizar o desgaste político, resolveu dizer que o
São Sebastião apenas trocou de lugar. Mentiu para a opinião pública afirmando
que o instituto não havia sido desativadio, mas ana verdade foi. Ele vive como
um comensal dentro do Hospital Federal dos Servidores, que não tem condições de
manter um hospital dentro de outro hospital. Esse funcionamento se faz de
maneira muito debilitada". (Jorge
Darze, diretor da Federação Nacional dos Médicos no Rio)
Em 2017, o
local agora oferecido para acomodar os serviços do HUGG, tinha várias áreas
interditadas por conta
de rachaduras que surgiram em 2013, após obras da prefeitura de “revitalização”
do entorno.
Quanto
ao atual Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião (IEISS):
“foi inaugurado
com pompa e circunstância por D. Pedro II em 1889, criado para atender os
doentes das inúmeras epidemias que varriam o Rio no fim do século XIX, (...).
Suas instalações já foram no Caju e que já teve 500 leitos, foi realocado em
2008 para um andar no Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Ao
longo do tempo, já esteve sob a gestão de várias esferas de poder (Federal,
Estadual e Municipal) e também já teve diversos nomes: [Hospital São Sebastião;
Hospital Estadual São Sebastião;
Instituto de Infectologia São Sebastião; Instituto Estadual de
Infectologia São Sebastião]”
No antigo
local, em 2021, restou a Ocupação
Vila dos Sonhos...
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