Intervenção federal na Saúde no Rio de
Janeiro (Parte 4): Nova estratégia de guerra anti-povo: atacar em todas as
frentes.
Antes de começar, lembremos que em 2021, a intervenção federal na Saúde
no município do Rio, realizada em 2005, ainda aguardava julgamento definitivo
no STF. No dia 22/10/2021, voltaria a plenário e novamente seria adiado (“STF:
Intervenção Federal no RJ de 2005 será julgada em plenário físico”. Migalhas,
22/10/21. https://www.migalhas.com.br/quentes/353640/stf-intervencao-federal-no-rj-de-2005-sera-julgada-em-plenario-fisico).
A intervenção federal do gerente de
turno Lula, para refederalizar os recém-municipalizados hospitais, só viria a
ser definitivamente julgada em 21/6/2022 (!!!). (Veja a tramitação e julgamento
em definitivo da Ação Direta de Inconstitucionalidade, impetrada pelo partido
Democratas (ex-PFL), ADI 3454 aqui: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2283117)
E quem diria? Menos de dois anos depois
da decisão do STF, em 26/3/2024, mal acabara a questão da intervenção para
“salvar” a Saúde na cidade, a mesma gerência-de-turno de 19 anos antes,
proporia nova salvação. Mas dessa vez, uma intervenção às avessas (intervenção
em si mesmo). Na manchete “Governo Lula vai declarar emergência em saúde
pública nos hospitais do Rio, com Nísia sob pressão”:
“A minuta do decreto já está na Casa
Civil. Até o momento, porém, a Secretaria de Assuntos Jurídicos prefere o
modelo de portaria, um pouco menos abrangente. De qualquer forma, com a medida,
o Ministério da Saúde poderá requisitar bens, serviços e servidores para os
hospitais da Lagoa, do Andaraí, de Jacarepaguá (Cardoso Fontes), de Ipanema,
dos Servidores do Estado e do Bonsucesso.” (https://www.estadao.com.br/politica/vera-rosa/lula-prepara-decreto-que-declara-calamidade-publica-nos-hospitais-do-rio-com-nisia-sob-fogo-cruzado/?srsltid=AfmBOoreROHQxK3BlFidmlXe6y4_vOnuFPE2U6kc4l7EgrMrZvm3g4lb)
Os acordos políticos com os grupos
locais são inseparáveis da necessidade de atender o grande capital. Tem muita
gente querendo ser intermediário nas negociações, afinal:
“Engrossa o caldo de problemas para [a
então ministra da Saúde] Nísia o apetite do Centrão pela pasta, que já vem
sendo demonstrado desde o ano passado. A pressão vem tanto pelo fato de a Saúde
ser o ministério com o terceiro maior orçamento da União (R$ 231 bilhões)
quanto por reclamações de parlamentares de demora da gestão Nísia em liberar
emendas.” (Gustavo Lopes Alves. “Nísia Trindade: aposta de Lula virou um
problema para o governo?”. O Estadão, 26/3/24. https://www.estadao.com.br/brasil/estadao-podcasts/nisia-trindade-aposta-de-lula-virou-um-problema-para-o-governo/)
Em 13/4/2024, lê-se: “Hospitais
federais devem ser distribuídos entre estado, município, universidades,
empresas públicas e até privadas” (https://temporealrj.com/hospitais-federais-devem-ser-distribuidos-entre-estado-municipio-universidades-empresas-publicas-e-ate-privadas/).
E em 9/7/2024, que “Hospital do Andaraí:
prefeitura pretende manter alta complexidade se assumir gestão definitiva, mas
verbas serão federais.” (Geraldo Ribeiro, Jéssica
Marques e Selma Schmidt. O Globo, 09/07/2024. https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2024/07/09/hospital-do-andarai-prefeitura-assume-gestao-e-pretende-manter-alta-complexidade-mas-verbas-serao-federais.ghtml):
“Teoricamente, não há impedimento, mas
isso já foi tentado e não deu certo. A prefeitura não tem interesse em
administrar com servidores concursados. O que tem feito são contratos com
organizações ou com a estatal Rio Saúde. Isso é o pulo do gato, ela não vai se
preocupar em fazer concurso para oncologista. Vai terceirizar esse serviço —
diz Fátima Siliansky, antes de complementar: — Esses processos não são bons
porque não dão resultado. Não existe vínculo de trabalho. Existe uma
rotatividade grande. O servidor não tem uma perspectiva de carreira porque
criam-se contratos que duram no máximo quatro anos, não há estabilidade. Isso
ocasiona queda de qualidade. A rede federal vive uma crise fabricada porque ela
tem toda capacidade para funcionar — conclui a professora.” (...)
“A Secretaria estadual de Saúde (SES-RJ)
disse, em nota, que “não irá assumir a gestão de hospitais federais”. O órgão
lembrou que, no ano passado, “formalizou uma proposta para assumir o Hospital
Federal da Lagoa, mas o Ministério da Saúde não deu retorno à solicitação”.
Em 5/7/2024, o MS publica a portaria n.4.847
que estabelece a descentralização
dos serviços do Hospital Federal do Andaraí (HFA) para a Prefeitura
Municipal do Rio de Janeiro, na verdade para uma OS.
Três dias depois, 8/7/2024, ficamos
sabendo através do jornal O Globo a
solução apresentada. As demais cinco unidades federais iriam ser
distribuídas. Segundo a matéria, o Hospital dos Servidores do Estado (HSE) iria
oficialmente para a UNIRIO, “convertendo-se em um hospital universitário
federal”, mas, na verdade gerido pela EBSERH. O Hospital da Lagoa (HFL), por
sua vez, seria transferido para a Fiocruz, enquanto o Hospital de Bonsucesso
(HGB) passaria a fazer parte do Grupo Hospitalar Conceição (GHC). Finalmente,
os hospitais de Ipanema (HFI) e o Cardoso Fontes (HFCF) seriam
descentralizados para a Prefeitura do Rio.
Em 5/9/2024, o MPF convocou uma
audiência pública para debater “gestão dos sobre os Hospitais Federais do Rio
de Janeiro e garantia da assistência à saúde”. Ela foi
transmitida ao vivo em 13 de set. de 2024, no Canal MPF no youtube: https://www.youtube.com/live/ASa1GGRQkcw.
Na Audiência Pública no Ministério
Público Federal (MPF) sobre os Hospitais Federais do Rio de Janeiro, transmitida
ao vivo em 13 de set. de 2024, no Canal MPF no youtube (assista aqui: https://www.youtube.com/live/ASa1GGRQkcw),
o presidente do Conselho Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (CES/RJ), Leonardo
Légora, lembrou do apoio do CES à moção de repúdio do Conselho Municipal de
Saúde em relação à descentralização do Hospital Federal do Andaraí, que ocorreu
sem a anuência do controle social.
Não temos notícia de algum procedimento
do MPF quanto a essa inconstitucionalidade.
Mas em 27/08/2024, o CES/RJ realizara
uma Reunião Extraordinária para discutir a decisão, via portaria do
Ministério da Saúde que propõe a descentralização da gestão dos hospitais
federais no estado. Essa Reunião
Extraordinária do CES/RJ (veja aqui: https://cesrj.org/2024/08/29/conselho-estadual-de-saude-do-rio-de-janeiro-debate-descentralizacao-dos-hospitais-federais/)
foi realizada em apoio ao Conselho Municipal de Saúde, “onde foram discutidas
propostas fundamentais para a gestão hospitalar”. Conforme o CES/RJ noticiou,
entre as propostas apresentadas, estão:
– Acesso ao serviço público: Através de
concurso público e contratação via regime jurídico único e estatutário,
garantindo que nenhum direito seja retirado dos trabalhadores.
– Eliminação de intermediários: Proibir
a gestão dos serviços por empresas públicas de direito privado, organizações
sociais, serviços sociais autônomos ou entidades privadas
– Autonomia administrativa e financeira:
Proposta de contratualização direta entre os hospitais federais e o Ministério
da Saúde.
– Profissionalização da gestão: Légora
defendeu que servidores de carreira devem assumir cargos de direção, eliminando
a indicação política e promovendo a meritocracia.
– Critérios claros para nomeações:
Estabelecimento de pré-requisitos para a gestão das unidades de saúde, sem
intermediários como organizações sociais ou empresas privadas.
O Centro de Estudos Estratégicos
Fiocruz, noticia o fatiamento geral em 9/10/2024. (veja aqui: https://cee.fiocruz.br/?q=hospitais-federais-do-rio-de-janeiro-e-mudanca-do-modelo-de-gestao).
O texto apresenta a dupla vantagem de dar o histórico das discussões sobre a
gestão dos hospitais da rede federal na antiga capital, e revelar a sua VERGONHOSA posição TOTALMENTE
PRIVATISTA desse autodenominado “Think Tank de Desenvolvimento e Saúde
da Fiocruz”.
A proposta se desenvolvia a partir do
“Diagnóstico” elaborado, no ano anterior, em 2023, pelo próprio Departamento de
Gestão Hospitalar (DGH) – MS, revelava
o estado de abandono dos seis hospitais. Ele confessava o belo
trabalho de sucateamento e autossabotagem de longa data do governo federal:
593 leitos estavam fechados, enfermarias e centros cirúrgicos interditados,
desabastecimento de insumos e medicamentos, equipamentos e infraestrutura sem
manutenção, a redução de mais de 16 mil servidores estatutários e déficit de
7.000 profissionais.
A proposta de municipalizar algumas das
unidades ia contra um estudo prévio do Tribunal de Contas do Município
(TCM/RJ). Em 2019, o TCM/RJ divulga o seu estudo de 2016. Nele, afirma que “a
iniciativa desta Corte teve grande impacto nas contas municipais, por ter
fornecido subsídios ao Chefe do Executivo na tomada de decisão contrária à
municipalização das Unidades Federais de Saúde, evitando, assim, o agravamento
da situação observada durante o ano de 2017.
O Estudo do TCM/RJ Pode ser acessado
aqui: https://www.tcmrio.tc.br/Noticias/13693/cartilha_municipalizacao_hospitais_v14_lores.pdf.
“Em 2016, quando a discussão sobre a
transferência dos hospitais para o município voltou novamente. Na época, o
Tribunal de Contas realizou um estudo sobre a viabilidade da municipalização
das unidades de saúde federais no Rio de Janeiro. Ao final, foi contra essa
municipalização, não porque fosse uma má ideia em si, mas devido ao histórico
de insucessos no passado e aos custos levantados. (...) O estudo indicava que
os custos para o município seriam muito altos em relação aos recursos que
seriam transferidos. O Tribunal de Contas entendeu que os termos do acordo não
seriam adequados.” (Veja mais aqui: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-07/rio-tem-manifestacao-contra-municipalizacao-de-hospital-federal e
aqui: https://cee.fiocruz.br/?q=hospitais-federais-do-rio-de-janeiro-e-mudanca-do-modelo-de-gestao)
Em 2025, o Hospital da Lagoa fica para Fiocruz (Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz)), mas como podemos ver aqui no blogue.
Conforme noticiado em 28/03/2025, a
decisão é oficialmente chamada de “integração entre IFF/Fiocruz e Hospital da
Lagoa” (aqui: “https://agencia.fiocruz.br/estudo-vai-avaliar-possivel-integracao-entre-ifffiocruz-e-hospital-da-lagoa,
aqui: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2025-03/estudo-vai-avaliar-integracao-do-hospital-da-lagoa-ao-ifffiocruz,
aqui: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/marco/ministerio-da-saude-anuncia-inicio-da-integracao-do-hospital-federal-da-lagoa-com-a-fiocruz.
Ocorrem protestos no Andaraí (Em
8/7/2024: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-07/rio-tem-manifestacao-contra-municipalizacao-de-hospital-federal).
E no Hospital de Bonsucesso, resistência
e repressão do governo, em 19/10/2024 (aqui: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/10/19/policias-sao-acionadas-hospital-federal-de-bonsucesso.ghtml e
aqui:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-10/manifestantes-sao-retirados-direcao-assume-hospital-de-bonsucesso)
Mais tarde, em 6/2/25, o gerente
Lulinha-paz-e-amor, durante cerimônia de reabertura de algumas áreas do
Hospital Federal de Bonsucesso (que, segundo a matéria, estavam “fechadas há
cinco anos”), afirma que são empresas como Grupo Hospitalar Conceição
(GHC) e as OS do município as especialistas em saúde, afirmou, em 6/2/25:
“Quem tem de mandar nos hospitais são os especialistas em saúde”.
E sobre os que denunciam os crimes
contra a saúde pública e a defendem, jogou todo o ranço reacionário:
“Muita gente não queria que a gente
fizesse uma intervenção democrática para administrá-lo. Muita gente não queria
que a gente fizesse o convênio com a prefeitura para administrá-lo. Mas ninguém
é dono de hospital. Nem médico, nem enfermeiro, nem sindicalistas são donos do
hospital”, afirmou o presidente.” (https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2025-02/hospitais-federais-serao-referencia-para-outros-paises-diz-lula)
Tal como veremos no caso do HUGG, a
decisão não apenas é sem discussão dos trabalhadores e os órgãos de controle
social, como também é o início do processo e não um mero estudo,
como querem fazer crer: da parte do Governo já estava decidido). (https://vidaeacao.com.br/estudo-avalia-fusao-entre-hospital-da-lagoa-e-instituto-fernandes-figueira/)
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